sexta-feira, 13 de junho de 2008

Não escrevo para não me ler. Temo que as palavras se me escapem por entre os dedos, fujam a sete pés ou afluam à superfície; que se esgueirem por entre as brechas da minha desatenção e resolvam dizer-me. Calo-me as letras: evito as perífrases nas quais tendo a estender-me, contorno os oximoros em cujos contrários habitualmente me revejo e faço de conta que não estou em casa. Enxoto adjectivos, sujeitos e complementos, como pedintes que espreitasse à socapa pelo óculo da porta. Receio que as palavras, matreiras, me fintem, me levem ao engano e me encantem, sereias, estendendo-me a mão, o ramo de oliveira, o cachimbo da paz, a sua outra face. Não quero que se me insinuem, nem que se dispam e rodopiem no varão da minha imaginação doente. Tenho medo do que possa encontrar de mim, nelas. Tenho medo de te encontrar em mim, nelas. Não escrevo para não me ler.

Ou escrevo, sempre e me leio e re-leio, e re-leio..


Por A. S.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto protegido por direitos de autor e plagiado daqui: www.umamoratrevido.blogspot.com

Estão a ser tomadas as devidas medidas legais, obviamente.


Sofia Vieira (a autora do mesmo - excepto da última frase)