terça-feira, 3 de junho de 2008

Sinto saudades de escrever de verdade. Pôr em letras o que se passa aqui. Mas, se as palavras não vem? Eu as tenho chamado, convidado, conquistado, ordenado; mas elas não vem! Fugidias, pequeníssimas unidades de pensamento que se deslocam em mim. Minúsculas e irriquietas pernas que as transportam para longe dos meus domínios. Que se recusam ao contato com o papel. Ou o teclado, para sermos menos românticos...
O falar, por outro lado, não me falta jamais. (Todos já sabem...) Cada vez que convoco a palavra oral, ela se apresenta. Forte, torrencial. O que é pequeno e delicado quando escrito se mostra poderoso e incontrolável ao ser voz. Ao se apresentar em carne. Em corpo. Escrita é delicada. Falada é arrebatada. Ambas as formas indomáveis. São mais que eu. Apesar da minha autoria, não respondem aos meus quereres.
E o que eu faço com o que trago aqui? Me ensinaram apenas o caminho do verbo para apresentar meu espírito a um outro. Não posso ser palavra no alisar de uma cabeça de menino, ou no admirar de um fim de tarde, como queria Clarice. Não aprendi a dizer assim. Pelo menos não de forma audível. Inteligível. As tantas nuances que carrego não podem ser traduzidas num olhar. Ou num mexer de braços. Em um meneio de corpo. Em um abraço. Ou podem? Reflito, mas ainda acho que não...
Mesmo a palavra, que me é tão cara, teima em desobedecer. Mais uma vez. E tenho andado cansada de uma alma tão auto-suficiente... Ela faz o que quer. Sem me consultar. Sente, deseja, reage, desiste, reflete. Independe de mim. Apenas é. Acho até engraçado como, habitando em mim, ela possa ser assim. Uma solista.

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