quarta-feira, 11 de junho de 2008

Destino ou escolha

Estranho. Aquele momento não teria melhor descrição. Os dois sentados no escuro, debaixo da janela que jogava o restinho de luz dos postes da cidade. O clima era o de uma confusão psicológica que os dois experimentavam juntos.- Posso te confessar uma coisa?


Ele perguntou com aquele olhar. Um que não conseguia repousar nos olhos dela, nem por um segundo. Olhava sempre pro chão, e deste arrastava à parede, repetindo o caminho num vai e vem conturbado e ansioso.

- Eu nunca imaginei que isso fosse possível.

- O que? - Ela perguntou.

- A gente, esse conjugado, essa janela. Nossos Mundos tão diferentes. Quando meu primeiro dente caiu, você já comprava absorventes.. Ela mesma não disse nada. Os olhos dela tinham uma característica que sempre o intrigou: eram sempre úmidos. Além de que, o olhar dela era sempre de baixo pra cima e sempre dizia: “há algo mais pra ser dito?”. Ela não era um exemplo de pessoa dessas que acham que a vida pode ser grande, mas os olhos sempre esperavam por algo mais. Se a frase dita tivesse três palavras, os olhos dela se preservavam até o tempo de serem ditas seis.
- Nossa Vênus precisa de mistério. Se não tiver mistério a gente enjoa... Você já está enjoada? Eu to sentindo que está. Fale a verdade, eu agüento. – ele mentia.

Na cabeça dela, essas últimas palavras não foram recebidas em português. Vieram num estranho dialeto que as resumiu a uma simples mensagem: “sou um garoto ansioso, tenho pressa, estou nervoso, vamos viver essa vida logo, vamos?”. E, pra ser sincero, ela não tinha mais energia pra isso. Quando ele foi embora, ela ligou a TV, fumou seus cigarros e sentiu-se, mais ou menos, como se aquele momento fosse o melhor que a vida poderia oferecer. Já o rapaz, ao pisar na rua, foi abduzido pelo destino e eles nunca mais se viram.

Dizem que hoje eles são tão diferentes, que moram no mesmo prédio, são vizinhos de porta, mas quando se cruzam não reconhecem um o outro. Dão bom dia por educação e seguem suas vidas. Ele um escritor estranho, ela uma professora cansada

Um comentário:

Flavia Vitorino Riepenhoff disse...

que texto mais lindo,é seu?
:~~